Este blog existe para mostrar às pessoas, especialmente aos estudantes que pensam em cursar jornalismo na universidade, os aspectos da profissão de jornalista que vão contra a ética e a ecologia profunda, e que não são percebidos por causa do ponto em que chegou a cultura humana, porque a sociedade espectadora, ouvinte e leitora alimenta-se desse teatro, desse circo.


sábado, 9 de outubro de 2010

Qual ser humano interesseiro censura mais?

Deparei-me com a revista Veja de 29 de setembro de 2010. E no fim desta postagem, vou querer questionar qual é A VERDADE, pregada pelos jornalistas.



A edição inteira é um tiroteio contra Lula e o PT. Tudo tem um motivo, principalmente numa revista, que é de uma empresa - a Abril S.A., no caso. Toda e qualquer ação de uma empresa visa o seu lucro e a sua manutenção, mesmo se for uma ação ecológica ou social. Qual será o motivo, neste caso, então?



Do site:

Desafios brasileiros
Avesso a críticas, governo Lula vê imprensa livre como adversário
(Maria Carolina Maia)


. . . não pode passar despercebido o fato de que, alçado ao poder, Lula e o PT concentraram artilharia pesada contra a imprensa livre, pilar da democracia, buscando miná-la. (...) É justamente a aversão à divergência que faz o PT, segundo Magnoli, enxergar a imprensa livre como um adversário a ser batido em campo de batalha. Os petistas, diz o sociólogo [Demétrio Magnoli, do Instituto de Relações Internacionais da Universidade de São Paulo (USP)], prefeririam ter os jornalistas como vassalos, daí a tática de cercear a imprensa livre e financiar seu arremedo governista.




A imprensa ideal dos petistas
Desacorçoados com a revelação pela imprensa de evidências irrefutáveis de corrupção no Palácio do Planalto, Lula e seu partido sacam do autoritarismo e atiram na imprensa, que acusam de ser golpista e de inventar histórias. Eles querem um jornalismo melhor? Não. Querem jornalismo nenhum
(Fábio Portela)


(...) Em contrapartida à investida do governo e do PT, um grupo de notáveis se organizou para repudiar os ataques contra a liberdade de imprensa. O grupo incluía, além de representantes históricos da esquerda, como o jurista Hélio Bicudo, um dos fundadores do PT, nomes como o do arcebispo emérito de São Paulo, Dom Paulo Evaristo Arns, e dos ex-ministros da Justiça Paulo Brossard, Miguel Reale Junior, José Carlos Dias e José Gregori. Reunido no centro de São Paulo, no Largo São Francisco, em frente à Faculdade de Direito, o grupo presenciou a leitura de um manifesto em defesa da democracia lido por Hélio Bicudo. Colocado na internet, o manifesto contava com mais de 30.000 adesões até sexta-feira. No Rio de Janeiro, a concentração se deu no Clube Militar, onde 500 pessoas se reuniram para discutir os ataques à imprensa - estiveram lá os colunistas Reinaldo Azevedo, de VEJA, e Merval Pereira, de O Globo.

(...) Dilma também rechaçou a mais explosiva das propostas do seu partido: “O único controle social da mídia que eu aceito é o controle remoto na mão do telespectador”. Se Dilma está sendo sincera em suas afirmações, não se sabe. Mas a ela, que nunca teve a oportunidade de exercer um cargo eletivo, cabe o benefício da dúvida. Já em relação a certos representantes do alto-petismo restam apenas certezas, incluindo a de que, em um eventual governo Dilma, o partido insistirá na estratégia autoritária.

O principal defensor deste projeto é Franklin Martins, ex-sequestrador, ex-jornalista e atual ministro da Comunicação Social de Lula. [Da wikipédia - Como jornalista, foi comentarista político em diversos veículos, até chegar à Rede Globo em 1996, atuando no Jornal Nacional e no Jornal da Globo até maio de 2006. Trabalhou ainda na Rede Bandeirantes, onde fazia comentários diários sobre política nos telejornais da casa e também no Jornal Gente, da Rádio Bandeirantes. Em 2007, foi convidado a ser ministro da Comunicação Social do governo Lula.] Franklin é o idealizador da estratégia de consumir o dinheiro público na compra do apoio - disfarçado de anúncio publicitário - de pequenos jornais, rádios do interior, revistas e blogs de alcance semelhante. Caso Dilma vença, seu próximo projeto será cuidar da reforma do arcabouço jurídico que regula o funcionamento das TVs abertas e fechadas, das rádios, dos provedores de internet e das empresas de telecomunicações no Brasil. Franklin pretende criar uma superagência reguladora para o setor. Ela seria responsável pelos aspectos técnicos do setor, mas também - e aqui mora o perigo - teria ascendência sobre os “conteúdos” que ele produz. Eis o pensamento vivo e franco do ministro a respeito do assunto: “Acham que regulação é um atentado à democracia, mas é o contrário: é parte da garantia de competição, de igualdade de direitos, da capacidade de inovação, da massificação dos serviços e do direito da sociedade à informação", embaralha.

Recentemente, Franklin Martins foi autorizado por Lula a viajar para a Europa, tão logo acabem as eleições, para convidar para um seminário representantes de instituições reguladoras da comunicação social da Inglaterra e da Bélgica. Não que o ministro deseje ouvir a opinião de alguém. Ele apenas espera que a presença de representantes de outros países legitime a conferência que tentará, mais uma vez, aprovar o velho programa petista de controle da mídia.


Governo voltará a discutir 'regulação da imprensa'

Ameaças à imprensa - Os oito anos do governo Lula foram alarmantes para a imprensa livre. O presidente em pessoa protagonizou tentativas de cerceamento da liberdade de opinião em seus dois mandato. Mas Lula não buscou sozinho esse objetivo. Governo, PT e sindicatos se revezaram na tarefa de emplacar alguma espécie de "controle social da mídia" – fórmula que, no fundo, expressa o desejo de relativizar ou simplesmente restringir a liberdade de imprensa, um dos pilares das sociedades democráticas.



Pois então. Estão desesperados, cagados de medo. Disputando queda de braço com o partido que está no poder. Eu cheguei a acreditar na revista, fiquei com raiva do PT. PORÉM, logo depois me deparei com o texto abaixo.

Dois pesos...
(Maria Rita Kehl)


Este jornal [O Estado de S. Paulo] teve uma atitude que considero digna: explicitou aos leitores que apoia o candidato Serra na presente eleição. Fica assim mais honesta a discussão que se faz em suas páginas. (...) Na TV a briga é maquiada, mas na internet o jogo é duro.

Se o povão das chamadas classes D e E – os que vivem nos grotões perdidos do interior do Brasil – tivesse acesso à internet, talvez se revoltasse contra as inúmeras correntes de mensagens que desqualificam seus votos. O argumento já é familiar ao leitor: os votos dos pobres a favor da continuidade das políticas sociais implantadas durante oito anos de governo Lula não valem tanto quanto os nossos. Não são expressão consciente de vontade política. Teriam sido comprados ao preço do que parte da oposição chama de bolsa-esmola.

Uma dessas correntes chegou à minha caixa postal vinda de diversos destinatários. Reproduzia a denúncia feita por “uma prima” do autor, residente em Fortaleza. A denunciante, indignada com a indolência dos trabalhadores não qualificados de sua cidade, queixava-se de que ninguém mais queria ocupar a vaga de porteiro do prédio onde mora. Os candidatos naturais ao emprego preferiam viver na moleza, com o dinheiro da Bolsa-Família. Ora, essa. A que ponto chegamos. Não se fazem mais pés de chinelo como antigamente. Onde foram parar os verdadeiros humildes de quem o patronato cordial tanto gostava, capazes de trabalhar bem mais que as oito horas regulamentares por uma miséria? Sim, porque é curioso que ninguém tenha questionado o valor do salário oferecido pelo condomínio da capital cearense. A troca do emprego pela Bolsa-Família só seria vantajosa para os supostos espertalhões, preguiçosos e aproveitadores se o salário oferecido fosse inconstitucional: mais baixo do que metade do mínimo. R$ 200 é o valor máximo a que chega a soma de todos os benefícios do governo para quem tem mais de três filhos, com a condição de mantê-los na escola.

(...) Continuam pobres as famílias abaixo da classe C que hoje recebem a bolsa, somada ao dinheirinho de alguma aposentadoria. Só que agora comem. Alguns já conseguem até produzir e vender para outros que também começaram a comprar o que comer. O economista Paul Singer informa que, nas cidades pequenas, essa pouca entrada de dinheiro tem um efeito surpreendente sobre a economia local. A Bolsa-Família, acreditem se quiserem, proporciona as condições de consumo capazes de gerar empregos. O voto da turma da “esmolinha” é político e revela consciência de classe recém-adquirida.

O Brasil mudou nesse ponto. Mas ao contrário do que pensam os indignados da internet, mudou para melhor. Se até pouco tempo alguns empregadores costumavam contratar, por menos de um salário mínimo, pessoas sem alternativa de trabalho e sem consciência de seus direitos, hoje não é tão fácil encontrar quem aceite trabalhar nessas condições. Vale mais tentar a vida a partir da Bolsa-Família, que apesar de modesta, reduziu de 12% para 4,8% a faixa de população em estado de pobreza extrema. Será que o leitor paulistano tem ideia de quanto é preciso ser pobre, para sair dessa faixa por uma diferença de R$ 200? Quando o Estado começa a garantir alguns direitos mínimos à população, esta se politiza e passa a exigir que eles sejam cumpridos. Um amigo chamou esse efeito de “acumulação primitiva de democracia”.

(...) Agora que os mais pobres conseguiram levantar a cabeça acima da linha da mendicância e da dependência das relações de favor que sempre caracterizaram as políticas locais pelo interior do País, dizem que votar em causa própria não vale. Quando, pela primeira vez, os sem-cidadania conquistaram direitos mínimos que desejam preservar pela via democrática, parte dos cidadãos que se consideram classe A vem a público desqualificar a seriedade de seus votos.



E agora, Douglas? O Lula é bonzinho ou é malvado? Qual jornalista detém A VERDADE? Não vale dizer que a Maria Rita Kehl não é jornalista, é psicanalista, porque ela está usando espaço de jornalismo e porque com a lei recente qualquer um que escreve no jornal, formado ou não, é jornalista.

E você acha que Maria saiu ilesa? É claro que não. Vieram os maravilhosos defensores da liberdade de imprensa, aqueles que demonizam o PT porque ele supostamente ameaça essa liberdade de imprensa, e demitiram-na por delito de opinião.

"O argumento é que eles estavam examinando o comportamento, as reações ao que escrevi e escrevia, e que, por causa da repercussão (na internet), a situação se tornou intolerável, insustentável, não me lembro bem que expressão usaram. Eu disse [a eles] que a repercussão mostrava, revelava que, se tinha quem não gostasse do que escrevo, tinha também quem goste. Se tem leitores que são desfavoráveis, tem leitores que são a favor, o que é bom, saudável... É tudo tão absurdo... A imprensa que reclama, que alega ter o governo intenções de censura, de autoritarismo... Acho que o presidente Lula e seus ministros cometem um erro estratégico quando criticam, quando se queixam da imprensa, da mídia, um erro porque isso, nesse ambiente eleitoral pode soar autoritário, mas eu não conheço nenhuma medida, nenhuma ação concreta, nunca ouvi falar de nenhuma ação concreta para cercear a imprensa. Não me refiro a debates, frases soltas, falo em ação concreta, concretizada. Não conheço nenhuma, e, por outro lado, a imprensa que tem seus interesses econômicos, partidários, demite alguém, demite a mim, pelo que considera um 'delito' de opinião. Acho absurdo, não concordo, que o dono do Maranhão (senador José Sarney) consiga impor a medida que impôs ao jornal O Estado de S.Paulo, mas como pode esse mesmo jornal demitir alguém apenas porque expôs uma opinião? Como é que um jornal que está, que anuncia estar sob censura, pode demitir alguém só porque a opinião da pessoa é diferente da sua?" (Maria Rita Kehl)


O diretor de conteúdo do Grupo O Estado de S.Paulo, Ricardo Gandour, conversou com Terra Magazine:

- Não é demissão. Colunistas se revezam, cumprem ciclos. (...) A coluna de sábado foi uma coluna forte...
- Forte...
- Dentro da questão de que não era esse o foco.


E agora, Douglas? Qual ser humano interesseiro censura mais?