Este blog existe para mostrar às pessoas, especialmente aos estudantes que pensam em cursar jornalismo na universidade, os aspectos da profissão de jornalista que vão contra a ética e a ecologia profunda, e que não são percebidos por causa do ponto em que chegou a cultura humana, porque a sociedade espectadora, ouvinte e leitora alimenta-se desse teatro, desse circo.


sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

Glorinha Kalil



O cartunista Laerte tá usando roupa de mulher pra dizer que cada um veste o que quiser e a Veja chama a especialista em crossdressing Veronica Vera pra dizer o que está certo e o que está errado na roupa dele.

sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

Ainda a Veja

Peguei uma edição que não entendeu que a Natalie Portman de biquíni na Idade Média era proposital no novo filme do David Gordon Green, 'Your highness'. "Pesquisamos muito para fazermos tudo errado", diz o diretor de 'All the real girls' - e a própria Veja imprime, como se denunciando uma desculpa esfarrapada do cineasta.

Na mesma edição, noticia-se que foi "sacrificada sem querer" uma cadela que evitou mortes em um atentado terrorista na fronteira do Afeganistão com o Paquistão. Dizem que a cã foi recebida com louvor nos Estados Unidos e, passeando na rua, foi pega pela carrocinha e morta com injeção letal, "confundida com um cão sem dono". Então os cães sem dono podem - ou devem - ser todos sacrificados? O que só importa é haver um ser humano por trás que pode sofrer?

- Oh, desculpem, cachorro errado... Vamos procurar outros vira-latas para matar!

sábado, 27 de novembro de 2010

Good vs. Evil

Violência no Rio: a farsa e a geopolítica do crime
(José Cláudio Souza Alves)


Nós que sabemos que o “inimigo é outro”, na expressão padilhesca, não podemos acreditar na farsa que a mídia e a estrutura de poder dominante no Rio querem nos empurrar.

Achar que as várias operações criminosas que vem se abatendo sobre a Região Metropolitana nos últimos dias, fazem parte de uma guerra entre o bem, representado pelas forças publicas de segurança, e o mal, personificado pelos traficantes, é ignorar que nem mesmo a ficção do Tropa de Elite 2 consegue sustentar tal versão.

O processo de reconfiguração da geopolítica do crime no Rio de Janeiro vem ocorrendo nos últimos 5 anos.

De um lado Milícias, aliadas a uma das facções criminosas, do outro a facção criminosa que agora reage à perda da hegemonia.

Exemplifico. Em Vigário Geral a polícia sempre atuou matando membros de uma facção criminosa e, assim, favorecendo a invasão da facção rival de Parada de Lucas. Há 4 anos, o mesmo processo se deu. Unificadas, as duas favelas se pacificaram pela ausência de disputas. Posteriormente, o líder da facção hegemônica foi assassinado pela Milícia. Hoje, a Milícia aluga as duas favelas para a facção criminosa hegemônica.

Processos semelhantes a estes foram ocorrendo em várias favelas. Sabemos que as milícias não interromperam o tráfico de drogas, apenas o incluíram na listas dos seus negócios juntamente com gato net, transporte clandestino, distribuição de terras, venda de bujões de gás, venda de voto e venda de “segurança”.

Sabemos igualmente que as UPPs não terminaram com o tráfico e sim com os conflitos. O tráfico passa a ser operado por outros grupos: milicianos, facção hegemônica ou mesmo a facção que agora tenta impedir sua derrocada, dependendo dos acordos.

Estes acordos passam por miríades de variáveis: grupos políticos hegemônicos na comunidade, acordos com associações de moradores, voto, montante de dinheiro destinado ao aparado que ocupa militarmente, etc.

Assim, ao invés de imitarmos a população estadunidense que deu apoio às tropas que invadiram o Iraque contra o inimigo Sadan Husein, e depois, viu a farsa da inexistência de nenhum dos motivos que levaram Bush a fazer tal atrocidade, devemos nos perguntar: qual é a verdadeira guerra que está ocorrendo?

Ela é simplesmente uma guerra pela hegemonia no cenário geopolítico do crime na Região Metropolitana do Rio de Janeiro.

As ações ocorrem no eixo ferroviário Central do Brasil e Leopoldina, expressão da compressão de uma das facções criminosas para fora da Zona Sul, que vem sendo saneada, ao menos na imagem, para as Olimpíadas.

Justificar massacres, como o de 2007, nas vésperas dos Jogos Pan Americanos, no complexo do Alemão, no qual ficou comprovada, pelo laudo da equipe da Secretaria Especial de Direitos Humanos da Presidência da República, a existência de várias execuções sumárias é apenas uma cortina de fumaça que nos faz sustentar uma guerra ao terror em nome de um terror maior ainda, porque oculto e hegemônico.

Ônibus e carros queimados, com pouquíssimas vítimas, são expressões simbólicas do desagrado da facção que perde sua hegemonia buscando um novo acordo, que permita sua sobrevivência, afinal, eles não querem destruir a relação com o mercado que o sustenta.

A farsa da operação de guerra e seus inevitáveis mortos, muitos dos quais sem qualquer envolvimento com os blocos que disputam a hegemonia do crime no tabuleiro geopolítico do Grande Rio, serve apenas para nos fazer acreditar que ausência de conflitos é igual à paz e ausência de crime, sem perceber que a hegemonização do crime pela aliança de grupos criminosos, muitos diretamente envolvidos com o aparato policial, como a CPI das Milícias provou, perpetua nossa eterna desgraça: a de acreditar que o mal são os outros.

Deixamos de fazer assim as velhas e relevantes perguntas: qual é a atual política de segurança do Rio de Janeiro que convive com milicianos, facções criminosas hegemônicas e área pacificadas que permanecem operando o crime? Quem são os nomes por trás de toda esta cortina de fumaça, que faturam alto com bilhões gerados pelo tráfico, roubo, outras formas de crime, controles milicianos de áreas, venda de votos e pacificações para as Olimpíadas? Quem está por trás da produção midiática, suportando as tropas da execução sumária de pobres em favelas distantes da Zona Sul? Até quando seremos tratados como estadunidenses suportando a tropa do bem na farsa de uma guerra, na qual já estamos há tanto tempo, que nos esquecemos que sua única finalidade é a hegemonia do mercado do crime no Rio de Janeiro?

Mas não se preocupem, quando restar o Iraque arrasado sempre surgirá o mercado financeiro, as empreiteiras e os grupos imobiliários a vender condomínios seguros nos Portos Maravilha da cidade.

Sempre sobrará a massa arrebanhada pela lógica da guerra ao terror, reduzida a baixos níveis de escolaridade e de renda que, somadas à classe média em desespero, elegerão seus algozes e o aplaudirão no desfile de 7 de setembro, quando o caveirão e o Bope passarem.

* José Cláudio Souza Alves e sociólogo, Pró-reitor de Extensão da UFRRJ e autor do livro: Dos Barões ao Extermínio: Uma História da Violência na Baixada Fluminense.

sábado, 9 de outubro de 2010

Qual ser humano interesseiro censura mais?

Deparei-me com a revista Veja de 29 de setembro de 2010. E no fim desta postagem, vou querer questionar qual é A VERDADE, pregada pelos jornalistas.



A edição inteira é um tiroteio contra Lula e o PT. Tudo tem um motivo, principalmente numa revista, que é de uma empresa - a Abril S.A., no caso. Toda e qualquer ação de uma empresa visa o seu lucro e a sua manutenção, mesmo se for uma ação ecológica ou social. Qual será o motivo, neste caso, então?



Do site:

Desafios brasileiros
Avesso a críticas, governo Lula vê imprensa livre como adversário
(Maria Carolina Maia)


. . . não pode passar despercebido o fato de que, alçado ao poder, Lula e o PT concentraram artilharia pesada contra a imprensa livre, pilar da democracia, buscando miná-la. (...) É justamente a aversão à divergência que faz o PT, segundo Magnoli, enxergar a imprensa livre como um adversário a ser batido em campo de batalha. Os petistas, diz o sociólogo [Demétrio Magnoli, do Instituto de Relações Internacionais da Universidade de São Paulo (USP)], prefeririam ter os jornalistas como vassalos, daí a tática de cercear a imprensa livre e financiar seu arremedo governista.




A imprensa ideal dos petistas
Desacorçoados com a revelação pela imprensa de evidências irrefutáveis de corrupção no Palácio do Planalto, Lula e seu partido sacam do autoritarismo e atiram na imprensa, que acusam de ser golpista e de inventar histórias. Eles querem um jornalismo melhor? Não. Querem jornalismo nenhum
(Fábio Portela)


(...) Em contrapartida à investida do governo e do PT, um grupo de notáveis se organizou para repudiar os ataques contra a liberdade de imprensa. O grupo incluía, além de representantes históricos da esquerda, como o jurista Hélio Bicudo, um dos fundadores do PT, nomes como o do arcebispo emérito de São Paulo, Dom Paulo Evaristo Arns, e dos ex-ministros da Justiça Paulo Brossard, Miguel Reale Junior, José Carlos Dias e José Gregori. Reunido no centro de São Paulo, no Largo São Francisco, em frente à Faculdade de Direito, o grupo presenciou a leitura de um manifesto em defesa da democracia lido por Hélio Bicudo. Colocado na internet, o manifesto contava com mais de 30.000 adesões até sexta-feira. No Rio de Janeiro, a concentração se deu no Clube Militar, onde 500 pessoas se reuniram para discutir os ataques à imprensa - estiveram lá os colunistas Reinaldo Azevedo, de VEJA, e Merval Pereira, de O Globo.

(...) Dilma também rechaçou a mais explosiva das propostas do seu partido: “O único controle social da mídia que eu aceito é o controle remoto na mão do telespectador”. Se Dilma está sendo sincera em suas afirmações, não se sabe. Mas a ela, que nunca teve a oportunidade de exercer um cargo eletivo, cabe o benefício da dúvida. Já em relação a certos representantes do alto-petismo restam apenas certezas, incluindo a de que, em um eventual governo Dilma, o partido insistirá na estratégia autoritária.

O principal defensor deste projeto é Franklin Martins, ex-sequestrador, ex-jornalista e atual ministro da Comunicação Social de Lula. [Da wikipédia - Como jornalista, foi comentarista político em diversos veículos, até chegar à Rede Globo em 1996, atuando no Jornal Nacional e no Jornal da Globo até maio de 2006. Trabalhou ainda na Rede Bandeirantes, onde fazia comentários diários sobre política nos telejornais da casa e também no Jornal Gente, da Rádio Bandeirantes. Em 2007, foi convidado a ser ministro da Comunicação Social do governo Lula.] Franklin é o idealizador da estratégia de consumir o dinheiro público na compra do apoio - disfarçado de anúncio publicitário - de pequenos jornais, rádios do interior, revistas e blogs de alcance semelhante. Caso Dilma vença, seu próximo projeto será cuidar da reforma do arcabouço jurídico que regula o funcionamento das TVs abertas e fechadas, das rádios, dos provedores de internet e das empresas de telecomunicações no Brasil. Franklin pretende criar uma superagência reguladora para o setor. Ela seria responsável pelos aspectos técnicos do setor, mas também - e aqui mora o perigo - teria ascendência sobre os “conteúdos” que ele produz. Eis o pensamento vivo e franco do ministro a respeito do assunto: “Acham que regulação é um atentado à democracia, mas é o contrário: é parte da garantia de competição, de igualdade de direitos, da capacidade de inovação, da massificação dos serviços e do direito da sociedade à informação", embaralha.

Recentemente, Franklin Martins foi autorizado por Lula a viajar para a Europa, tão logo acabem as eleições, para convidar para um seminário representantes de instituições reguladoras da comunicação social da Inglaterra e da Bélgica. Não que o ministro deseje ouvir a opinião de alguém. Ele apenas espera que a presença de representantes de outros países legitime a conferência que tentará, mais uma vez, aprovar o velho programa petista de controle da mídia.


Governo voltará a discutir 'regulação da imprensa'

Ameaças à imprensa - Os oito anos do governo Lula foram alarmantes para a imprensa livre. O presidente em pessoa protagonizou tentativas de cerceamento da liberdade de opinião em seus dois mandato. Mas Lula não buscou sozinho esse objetivo. Governo, PT e sindicatos se revezaram na tarefa de emplacar alguma espécie de "controle social da mídia" – fórmula que, no fundo, expressa o desejo de relativizar ou simplesmente restringir a liberdade de imprensa, um dos pilares das sociedades democráticas.



Pois então. Estão desesperados, cagados de medo. Disputando queda de braço com o partido que está no poder. Eu cheguei a acreditar na revista, fiquei com raiva do PT. PORÉM, logo depois me deparei com o texto abaixo.

Dois pesos...
(Maria Rita Kehl)


Este jornal [O Estado de S. Paulo] teve uma atitude que considero digna: explicitou aos leitores que apoia o candidato Serra na presente eleição. Fica assim mais honesta a discussão que se faz em suas páginas. (...) Na TV a briga é maquiada, mas na internet o jogo é duro.

Se o povão das chamadas classes D e E – os que vivem nos grotões perdidos do interior do Brasil – tivesse acesso à internet, talvez se revoltasse contra as inúmeras correntes de mensagens que desqualificam seus votos. O argumento já é familiar ao leitor: os votos dos pobres a favor da continuidade das políticas sociais implantadas durante oito anos de governo Lula não valem tanto quanto os nossos. Não são expressão consciente de vontade política. Teriam sido comprados ao preço do que parte da oposição chama de bolsa-esmola.

Uma dessas correntes chegou à minha caixa postal vinda de diversos destinatários. Reproduzia a denúncia feita por “uma prima” do autor, residente em Fortaleza. A denunciante, indignada com a indolência dos trabalhadores não qualificados de sua cidade, queixava-se de que ninguém mais queria ocupar a vaga de porteiro do prédio onde mora. Os candidatos naturais ao emprego preferiam viver na moleza, com o dinheiro da Bolsa-Família. Ora, essa. A que ponto chegamos. Não se fazem mais pés de chinelo como antigamente. Onde foram parar os verdadeiros humildes de quem o patronato cordial tanto gostava, capazes de trabalhar bem mais que as oito horas regulamentares por uma miséria? Sim, porque é curioso que ninguém tenha questionado o valor do salário oferecido pelo condomínio da capital cearense. A troca do emprego pela Bolsa-Família só seria vantajosa para os supostos espertalhões, preguiçosos e aproveitadores se o salário oferecido fosse inconstitucional: mais baixo do que metade do mínimo. R$ 200 é o valor máximo a que chega a soma de todos os benefícios do governo para quem tem mais de três filhos, com a condição de mantê-los na escola.

(...) Continuam pobres as famílias abaixo da classe C que hoje recebem a bolsa, somada ao dinheirinho de alguma aposentadoria. Só que agora comem. Alguns já conseguem até produzir e vender para outros que também começaram a comprar o que comer. O economista Paul Singer informa que, nas cidades pequenas, essa pouca entrada de dinheiro tem um efeito surpreendente sobre a economia local. A Bolsa-Família, acreditem se quiserem, proporciona as condições de consumo capazes de gerar empregos. O voto da turma da “esmolinha” é político e revela consciência de classe recém-adquirida.

O Brasil mudou nesse ponto. Mas ao contrário do que pensam os indignados da internet, mudou para melhor. Se até pouco tempo alguns empregadores costumavam contratar, por menos de um salário mínimo, pessoas sem alternativa de trabalho e sem consciência de seus direitos, hoje não é tão fácil encontrar quem aceite trabalhar nessas condições. Vale mais tentar a vida a partir da Bolsa-Família, que apesar de modesta, reduziu de 12% para 4,8% a faixa de população em estado de pobreza extrema. Será que o leitor paulistano tem ideia de quanto é preciso ser pobre, para sair dessa faixa por uma diferença de R$ 200? Quando o Estado começa a garantir alguns direitos mínimos à população, esta se politiza e passa a exigir que eles sejam cumpridos. Um amigo chamou esse efeito de “acumulação primitiva de democracia”.

(...) Agora que os mais pobres conseguiram levantar a cabeça acima da linha da mendicância e da dependência das relações de favor que sempre caracterizaram as políticas locais pelo interior do País, dizem que votar em causa própria não vale. Quando, pela primeira vez, os sem-cidadania conquistaram direitos mínimos que desejam preservar pela via democrática, parte dos cidadãos que se consideram classe A vem a público desqualificar a seriedade de seus votos.



E agora, Douglas? O Lula é bonzinho ou é malvado? Qual jornalista detém A VERDADE? Não vale dizer que a Maria Rita Kehl não é jornalista, é psicanalista, porque ela está usando espaço de jornalismo e porque com a lei recente qualquer um que escreve no jornal, formado ou não, é jornalista.

E você acha que Maria saiu ilesa? É claro que não. Vieram os maravilhosos defensores da liberdade de imprensa, aqueles que demonizam o PT porque ele supostamente ameaça essa liberdade de imprensa, e demitiram-na por delito de opinião.

"O argumento é que eles estavam examinando o comportamento, as reações ao que escrevi e escrevia, e que, por causa da repercussão (na internet), a situação se tornou intolerável, insustentável, não me lembro bem que expressão usaram. Eu disse [a eles] que a repercussão mostrava, revelava que, se tinha quem não gostasse do que escrevo, tinha também quem goste. Se tem leitores que são desfavoráveis, tem leitores que são a favor, o que é bom, saudável... É tudo tão absurdo... A imprensa que reclama, que alega ter o governo intenções de censura, de autoritarismo... Acho que o presidente Lula e seus ministros cometem um erro estratégico quando criticam, quando se queixam da imprensa, da mídia, um erro porque isso, nesse ambiente eleitoral pode soar autoritário, mas eu não conheço nenhuma medida, nenhuma ação concreta, nunca ouvi falar de nenhuma ação concreta para cercear a imprensa. Não me refiro a debates, frases soltas, falo em ação concreta, concretizada. Não conheço nenhuma, e, por outro lado, a imprensa que tem seus interesses econômicos, partidários, demite alguém, demite a mim, pelo que considera um 'delito' de opinião. Acho absurdo, não concordo, que o dono do Maranhão (senador José Sarney) consiga impor a medida que impôs ao jornal O Estado de S.Paulo, mas como pode esse mesmo jornal demitir alguém apenas porque expôs uma opinião? Como é que um jornal que está, que anuncia estar sob censura, pode demitir alguém só porque a opinião da pessoa é diferente da sua?" (Maria Rita Kehl)


O diretor de conteúdo do Grupo O Estado de S.Paulo, Ricardo Gandour, conversou com Terra Magazine:

- Não é demissão. Colunistas se revezam, cumprem ciclos. (...) A coluna de sábado foi uma coluna forte...
- Forte...
- Dentro da questão de que não era esse o foco.


E agora, Douglas? Qual ser humano interesseiro censura mais?

segunda-feira, 27 de setembro de 2010

Jornalistas têm o poder de transformar um "não" em "sim"



Eu ouvi a entrevista do Celso Roth para a Rádio Gaúcha. Ele disse mais ou menos assim: "PERGUNTEI pro D'Alessandro se ele ficou assustado, e ele respondeu que não, que gustou." O recorte acima é da capa da seção Esportes da Zero Hora online de hoje.

quinta-feira, 26 de agosto de 2010

Palavras

"Pensamento discursivo e conjecturas mentais são como formigas movendo-se lentamente ao redor da borda de uma tigela – nunca vão a lugar nenhum. Palavras não podem descrever a realidade. Apenas a experiência direta nos habilita a ver a verdadeira face da realidade." (Buda)

"Nós privilegiamos muito a linguagem discursiva, mas a linguagem verdadeira é a linguagem da energia, a linguagem que o mundo opera. O mundo não troca palavras, o mundo se movimenta pelo sinal das energias." (Lama Samten)

quarta-feira, 25 de agosto de 2010

Pressa

Trabalhei apenas três meses no maior jornal diário do interior do Rio Grande do Sul, e volta e meia eu tenho pesadelo com a cara de pressa da minha editora querendo que eu tenha pressa.

As pessoas se preocupam em ter pressa, mas não se preocupam em ser ágeis. Pressa pode trazer alguma agilidade, mas pode muito mais trazer obstáculos ao objetivo de ser ágil. Agilidade tem mais a ver com calma, serenidade, concentração, mente alerta. Pressa tem a ver com incapacidade, inconsequência, aparência de agilidade, sensação de urgência, peso.

Pressa, peso.
Pressão, pressão, pressionar.
Press.
Pressa gera energia negativa.

"Como poderemos saber a diferença entre agilidade e pressa? Basta olhar onde está o centro de comando do indivíduo e seu autocontrole. Se ele é comandado de fora para dentro, simplesmente reage impensadamente a pressões externas de um mundo agitado. Se é comandado de dentro para fora, mantém-se no ritmo que julga adequado e reage proativamente aos eventos externos. Se é ansioso, sua correria quer dizer estresse; se é ágil tem autocontrole emocional e reage a partir de um comando cerebral adequado." (Fonte Anônima)

"Muitas vezes vejo alguns colaboradores da minha empresa dizerem que estão com pressa ao executar alguma tarefa. Isto fez com que eu estudasse mais a situação e chegasse à conclusão que muitas vezes os funcionários que estão com pressa acham que estão sendo ágeis em resolver a tarefa, o que é um erro, pois existe diferenças básicas entre pressa e agilidade." (Cláudio Henrique de Castro)

terça-feira, 24 de agosto de 2010

Diogo Mainardi

O caso do Sr. D

Acreditar que um de nós possa ter mais autonomia de pensamento do que um pombo é um daqueles desejos infantis interpretados por Sigmund Freud. Continue a insultar e a castigar o pessoal da imprensa, Dunga!

Sigmund Freud? Na última semana [primeira quinzena de junho], o jornal O Globo consultou uma série de psicanalistas para tentar entender a personalidade de Dunga. Ou, freudianamente: “O caso do Sr. D”. Isso demonstra que ele, Dunga, está certo: o pessoal da imprensa realmente merece ser insultado e castigado. Que o Brasil — e, em particular, o Rio de Janeiro — tenha uma série de psicanalistas já é um contrassenso. O que caracteriza os brasileiros é nossa mente perfeitamente desprovida de pensamentos conscientes ou inconscientes. O técnico da Eslováquia, Vladimir Weiss, poderia ser psicanalisado. Assim como Dunga, ele costuma insultar e castigar os repórteres, chamando-os de estúpidos. Mas, ao contrário do que ocorre com os eslovacos, as categorias da psicanálise sempre soam ridiculamente impróprias quando aplicadas aos brasileiros.


Corra, Diogo, corra!

Assim como os cachorros latem antes dos terremotos, eu interpreto os artigos de Caetano Veloso como sinais de alerta para um desastre iminente. Au! Au! O colunismo
está ruindo. Au! Au! O colunismo está se esboroando.


Caetano Veloso agora é colunista de O Globo. Desde sua estreia, num domingo, quatro semanas atrás, estou tentando arrumar outra maneira para me sustentar. Se até Caetano Veloso se tornou um colunista, tenho de mudar de trabalho urgentemente. Assim como os cachorros latem antes dos terremotos, eu interpreto os artigos de Caetano Veloso como sinais de alerta para um desastre iminente. Au! Au! O colunismo está ruindo. Au! Au! O colunismo está se esboroando. Au! Au! É melhor fugir para o meio da rua, antes que o teto desabe sobre mim. Corra, Diogo, corra! Imediatamente depois de Caetano Veloso estrear como colunista de O Globo, a Folha de
S.Paulo passou a contratar colunistas por metro.

No momento, o jornal tem cento-e-vinte-e-oito colunistas. Esse foi o número anunciado por seus próprios editores: cento-e-vinte-e-oito.

domingo, 22 de agosto de 2010

São essas as notícias

Fui ontem a uma festa de jornalistas. Soube que uma mulher telefonou de manhã para a rádio reclamando que eles davam notícias ruins de manhã. E que a resposta foi mais ou menos assim: "Mas, minha senhora, o que que eu posso fazer? São essas as notícias."

sexta-feira, 13 de agosto de 2010

A crítica

"Se, em alguns tipos de teatro, ou de representação, não se pode 'fazer a experiência' senão como participante, onde fica a distância crítica? Como se pode ser distante de um objeto, de uma prática que depende em larga escala da capacidade, da possibilidade, da vontade, do prazer de participar e de realizar? A discussão crítica coloca-se, então, perante um dilema. A discussão crítica está a ser questionada. Será certamente mais fácil, diante de um público, apresentar-se como uma autoridade que reitera julgamentos de valor estético sobre o teatro ou a produção artística. Há quem o faça inclusivamente com bastante finesse. Mas... A tarefa da crítica é tentar refletir sobre a questão artística, o problema artístico, procurando concretizar algo que não se demita de reconstruir essa questão artística, ou esse problema artístico. Na esfera pública contemporânea, leva-se em conta o aspecto comercial ou de marketing: uma, duas ou três estrelas. [A crítica] não vai além da sugestão de ir ver ou não: [isso é] marketing. OK, as necessidades inexoráveis do mercado são uma realidade. Mas nenhum de nós se deve servir disso como desculpa. A crítica tem a responsabilidade de sublinhar aqueles aspectos aos quais o público não está habituado, de lhes proporcionar uma plataforma de compreensão, e não somente seguir o entretenimento dominante." (Hans-Thies Lehmann)

quarta-feira, 11 de agosto de 2010

Cientificismo também na Vida Simples

Começo com o pensamento do artista alemão Joseph Beuys:

"Gostaria agora de analisar em termos obviamente genéricos, o conceito de conhecimento. Atualmente temos que lidar com um conceito muito preciso de ciência. Trata-se de um conceito extremamente limitado, referente unicamente as ciências naturais – ou ciências exatas. Ou seja, de um conceito positivista, materialista e atomista. Ao dizer isso, é preciso acrescentar também que o conceito atual de ciência tem uma validade extremamente parcial, que por certo não pode se referir a todos os problemas do homem, porque esta baseado preponderantemente nas leis da matéria. E aquilo que se refere à matéria não pode, necessariamente, referir-se à vida. O homem liberou seu pensamento de qualquer patrimônio de espiritualidade e de transparência através de um método de progressiva concentração do próprio pensamento e do conhecimento na matéria. A revolução industrial é, efetivamente, a sequência lógica da revolução burguesa. Podemos, portanto, afirmar tranquilamente que a época da revolução burguesa ainda não teve seu ocaso, pois prossegue na época atual. Quando os burgueses tomaram consciência do nascimento de uma nova classe social, o proletariado, comportaram-se exatamente como os senhores feudais antes deles, utilizando o conceito positivista de ciência como instrumento de repressão e de marginalização de uma maioria de indivíduos de um processo de revolução permanente. Notamos, de fato, que aquele mesmo movimento revolucionário que abrira para as massas a participação no processo criativo hoje exauriu o seu papel propulsor. O pensamento positivista burguês impede – por exemplo, nas escolas – a expansão do processo revolucionário, exatamente como o conceito positivista de ciência, que em um primeiro momento mostrara-se revolucionário, impede hoje o desenvolvimento da sociologia. Hoje já estamos assistindo às tentativas do sistema capitalista de instrumentalizar o conceito de ciência para reproduzir uma classe de tecnocratas que seja homogênea e funcional em relação ao sistema. O conceito positivista de ciência – antes revolucionário – hoje voltou-se contra o homem. Isso não significa, obviamente, que queremos refutar ou renunciar ao processo tecnológico. Pois a sociedade, e logo todos os homens, terá necessidade, no futuro, de uma tecnologia mais avançada e portanto mais produtiva. Mas o desenvolvimento de uma tecnologia desse tipo, mais avançada e mais produtiva, que possa ser posta a serviço de todos os homens, é dificultado e desviado pelo sistema capitalista, interessado unicamente na própria auto-reprodução, ou seja, na satisfação de suas necessidades de auto-reprodução. O conceito positivista de ciência não é mais revolucionário, hoje, na medida em que está voltado exclusivamente para o desenvolvimento da tecnologia e da revolução industrial. Para o futuro, prevê-se uma consolidação do conceito positivista, atomista e materialista, na qual não haverá mais espaço para implicações de natureza sociológica e psicológica, com um consequente aumento da alienação do homem, privado de sua espiritualidade e debilitado em sua vontade e em sua capacidade de autodeterminação. O problema que neste momento mais interessa ao mundo não é um problema de caráter econômico, de meios de produção ao nível de vida (todos problemas que se referem preponderantemente aos países em via de desenvolvimento); o problema dominante é a falta de um modelo humano. Falta uma ciência sociológica adequada às exigências, falta uma discussão sobre o homem. Não é suficiente discutir sobre as necessidades econômicas da humanidade, o mesmo interesse deve voltar-se para a satisfação de suas necessidades espirituais. Como realizar um processo de re-humanização do homem?"

Agora faço uma relação com um meio de comunicação atual, uma revista, e uma revista que em muitos casos é a única que aborda espiritualidade e pensamento complexo moriniano. Numa seção de pergunta e resposta, surgiu uma questão de colocar os pés em contato com a terra. Diante da possibilidade de se falar sobre o recontato do homem com a mãe terra, com o feminino, os significados espirituais e mitológicos de um contato desse tipo, eis que assim foi a resposta:

"Andar descalço na areia faz bem? - Sim, pois além de proporcionar relaxamento e bem-estar físico, ao caminhar descalço na areia ou em outras superfícies naturais (podem ser pedrinhas, grãos, folhas secas e cascalho) você estimula as milhares de terminações nervosas existentes na planta dos pés. Essas terminações são ligadas por meio de ramificações aos diversos órgãos internos, à coluna vertebral, à cabeça e aos membros superiores e inferiores do corpo. A massagem na planta do pé pode favorecer o bom funcionamento dessas partes e ajudar a recuperar o equilíbrio perdido. A prática de cuidar do corpo pelo ato de tocar e estimular regiões dos pés recebeu o nome de reflexologia e é usada pelos chineses e egípcios há milhares de anos. Os especialistas, no entanto, aconselham a caminhar em terrenos planos. 'Eles são mais indicados porque não provocam sobrecarga nas articulações e não exigem tanto do equilíbrio', diz a fisioterapeuta Amélia Pascoal Marques, da USP. Quanto a andar na areia fofa ou batida, vai depender do vigor físico de cada um. 'Na areia fofa, a pessoa vai precisar fazer mais força e ter um melhor equilíbrio, mas não há nenhuma contra-indicação', afirma Amélia. A única ressalva feita pelos dermatologistas é evitar caminhar descalço em determinados locais públicos, como praças e calçadas, para evitar o risco de contrair micoses."

Agora a Zero Hora exige tratamento psicanalítico para Dunga

terça-feira, 10 de agosto de 2010

Confederação Globo de Futebol



Depois de Dunga se desentender com a Globo ("O técnico Dunga, no comando da seleção há quase quatro anos, não apresenta nas entrevistas um comportamento compatível com a imagem de alguém tão vitorioso no esporte. Com frequência, ele usa frases grosseiras e irônicas"), mesmo dizendo "que a preocupação do jornalismo da Rede Globo sempre foi a de levar a melhor informação a você, telespectador, independentemente de quem esteja no comando", a empresa passou a alfinetar o agora ex-técnico em toda ocasião possível. Ontem, no Jornal Nacional, falou-se: "Não há técnico de Seleção que não se orgulhe de revelar, de pinçar um jogador de talento que poucos notavam e fazê-lo crescer e se firmar. Com passagem curta pela Seleção, Paulo Roberto Falcão se orgulha de ter lançado jogadores que depois seriam campeões mundiais, como Mauro Silva. Dunga escolheu Felipe Melo pra ser um dos símbolos de sua seleção. Neste caso, o projeto não terminou bem." Mas agora Ricardo Teixeira mandou Dunga embora e pôde retomar seu relacionamento amoroso com a televisão. A CBF chegou ao ponto de fazer uma camiseta personalizada em homanagem a Alex Escobar, o repórter coitadinho que foi alvo do malvado Dunga.



Abaixo, a matéria do GloboEsporte.com sobre o primeiro jogo da Seleção com o comando de Mano Menezes, o técnico bonzinho.

Com ‘cara de Brasil’, Seleção encara os Estados Unidos em Nova Jersey
Mano opta por esquema super ofensivo no seu primeiro desafio como técnico verde e amarelo. Renovação vai começar a todo vapor
(Leandro Canônico/Rede Globo)


Depois de 38 dias da eliminação nas quartas de final da Copa do Mundo da África do Sul, a Seleção Brasileira volta a campo nesta terça-feira para encarar os Estados Unidos, no estádio New Meadowlands, em Nova Jersey, às 21h (de Brasília), em partida amistosa. Para o Brasil esse jogo significa renovação. O GloboEsporte.com transmite o confronto ao vivo, em vídeo.

A começar pelo comando técnico. No lugar de Dunga está Mano Menezes, que fez sucesso recentemente com Grêmio e Corinthians. Mas o ponto alto da mudança é a troca do esquema truncado, cheio de volantes, por um mais ousado, com três atacantes. É o Brasil novamente com cara de Brasil.

- É importante deixar claro que o futebol brasileiro sempre teve muita qualidade. Apenas estamos aproveitando um momento especial, pegando jogadores com essa característica de jogo e propondo uma maneira de atuar. Não é nada novo no futebol – declarou o novo comandante da Seleção Brasileira.

Após o fracasso no Mundial diante da Holanda e a saída do técnico Dunga, era fato que o Brasil sofreria uma forte renovação. Não à toa apenas quatro jogadores que estiveram na África do Sul foram chamados para o amistoso: Daniel Alves, Robinho, Ramires e Thiago Silva. Um deles, aliás, deve ser o capitão da equipe.

Em sua primeira convocação, Mano Menezes priorizou o momento e também fez algumas apostas. Até por isso, nomes como os de Paulo Henrique Ganso, Neymar e André se misturam com os de certa forma desconhecidos David Luiz, Éderson e Rafael. O técnico se mostra bastante satisfeito com a sua lista.

- Certamente tenho em mãos a melhor reunião de talentos bem fundamentados tecnicamente. Estava olhando a formação do time reserva no treinamento e ela pode ser ideal. A função do técnico é exatamente essa: pegar as melhores peças e montar um esquema – acrescentou Mano Menezes.

Até por isso ele apostou na base do time do Santos que brilhou no primeiro semestre, com a conquista do Paulistão e da Copa do Brasil. Portanto, Ganso vai comandar o meio campo brasileiro e verá à sua frente Robinho e Neymar no ataque, reforçados pelo também garoto Alexandre Pato, de 20 anos.

O amistoso contra os Estados Unidos marcará o debute da Era Mano Menezes na Seleção Brasileira. Ainda este ano, o técnico comandará o time em mais cinco amistosos. Dois em setembro, dois em outubro e um em novembro.

Do lado dos Estados Unidos, renovação não é a palavra. Mas sim manutenção. No provável time titular, o técnico Bob Bradley colocou dez jogadores que estiveram no Mundial da África do Sul. A equipe norte-americana caiu nas oitavas de final do torneio para a sensação Gana, que veio a perder do Uruguai na fase seguinte.

quarta-feira, 28 de julho de 2010

A verdade

[Leia o título acima com a voz que o Cid Moreira faz para "Jabulani".]


Para normatizar a ética no Brasil, em 1987 foi aprovado o Código de Ética dos Jornalistas. No artigo sétimo estabelece que é dever fundamental do jornalista buscar a verdade dos fatos e que seu trabalho deve ser pautado na precisa apuração dos acontecimentos e sua correta divulgação. (Observatório da Imprensa)


O conceito de verdade e sua utilização no Jornalismo
Iluska Coutinho - Jornalista, doutora em Comunicação Social (Umesp) e mestre em Comunicação e Cultura (UnB). Professora da Faculdade de Comunicação, Departamento de Jornalismo, da Universidade Federal de Juiz de Fora


Em um primeiro momento podemos perceber que a promessa de relato fiel dos fatos, de reprodução perfeita da realidade objetiva nas notícias também está expressa na concepção que o conceito de verdade e sua utilização no Jornalismo os próprios jornalistas têm de seu ofício. É o que se pode depreender por exemplo na definição proposta por Alberto Dines em 'O papel do jornal', para quem os jornais são 'instrumento de acesso ao mundo para o cidadão' (DINES, 1976, p.35).

Conceituar é de certa forma denominar um dado objeto ou sujeito. Isto significa, em outras palavras, dar nomes a determinadas coisas. Outra observação importante é que a conceituação pressupõe e exige uma intencionalidade e a aplicação de um juízo de valor sobre o objeto em questão. Embora mocinhos e cowboys nas telas de cinema, nas trilhas sonoras difundidas por CDs ou disponíveis na rede mundial de computadores, reforcem em momentos dramáticos ou de clímax o vocábulo 'truth', é indispensável para a reflexão sobre a apropriação da verdade no jornalismo entender as origens dos discursos, as construções históricas que permitem no tempo presente a existência de enunciações que se apresentam como verdadeiras, tais como as matérias jornalísticas consumidas diariamente em todo o mundo. (...)

O conceito de verdade tem sido abordado e compreendido de diferentes formas por diversas escolas filosóficas e por diversos pensadores. A relação primordial que definiria um enunciado como verdadeiro é para alguns de adequação, para outros de correção e ainda para um terceiro grupo fundada em uma relação nominal; estariam assim fundados os tipos de verdade segundo Hanna Arendt (2000, p. 223). (...)

Para Heidegger, as verdades são respostas que o homem dá ao mundo. Vale ressaltar a utilização do termo no plural, quando o conceito de verdade perde o critério do absoluto e/ou do indivisível. Não haveria portanto uma verdade filosófica, mas várias verdades. Esse sentido mais pluralista também é defendido por Foucault, para quem o significado de verdade seria o de expressão de determinada época, cada qual com sua verdade e seu discurso. (...)

'O repórter é um curioso movido permanentemente pelo desejo de saber o que acontece e de entender porque aconteceu. Se não for assim está na profissão errada. E não basta querer saber: é preciso saber tudo, e ter a obstinação de saber certo' (GARCIA, 1992, p.11), segundo define, com certa pretensão e vaidade, o Manual de Redação de O Globo. As notícias publicadas nos jornais são produzidas, ou ao menos deveriam ser, por este superprofissional do saber.

A própria noção de notícia nos oferece pistas relevante para o estudo do valor Verdade no jornalismo. A notícia é comumente definida 'o relato, não o fato' (LUSTOSA, 1996, O conceito de verdade e sua utilização no Jornalismo, p.17). Assim poderíamos partir do princípio que o conteúdo oferecido pelo jornal em suas páginas não seria a 'verdade absoluta', em um paralelo com o conceito filosófico, mas a expressão da verdade, um relato verdadeiro de uma situação delimitada. Uma vez que como produto as matérias jornalísticas se referem a fatos isolados, muitas vezes descontextualizados, segundo críticas frequentes, elas se afastariam da verdade filosófica, que não aceita visões atômicas. Em direção contrária do conceito discutido anteriormente, as pautas jornalísticas delimitam e recortam a realidade a ser enunciada. Para além dos problemas decorrentes do 'fracionamento' do mundo nas páginas de jornal, há ainda a questão da interpretação. Afinal, como nos lembra Hilton Japiassu, 'os fatos não falam' (JAPIASSU, 1994, p.09). Assim, o que vemos impresso nos jornais não é a voz dos fatos, mas de pessoas que participaram deles ou ainda que foram espectadoras dos acontecimentos, também uma categoria carregada de julgamentos e intencionalidades. (...)

O argumento mais utilizado pelos editores de jornal, alguns autodenominados como pragmáticos, é o de que a 'verdade' seria uma abstração, o que os levaria a relatar objetivamente a realidade. Japiassu porém questiona: 'Caso existam informações bjetivas, quem controlará a objetividade dessas informações?' (JAPIASSU, 1994, p.11). As informações 'neutras e objetivas' estariam segundo ele sujeitas ao poder de decisão que as arbitraria. Desta forma não haveria informações e conhecimentos isentos de uma intencionalidade. (...)

Apesar da impossibilidade de um relato imparcial, os jornais são apresentados e recebidos por significativa parcela de seu público como um instrumento de descrição da realidade, o que oferece status de verdadeiro a seu conteúdo impresso. (...)

Como proposta de se constituir em expressão da verdade, o Jornalismo tenta apagar as marcas do enunciador, de sua produção, numa estratégia que traria legitimidade e credibilidade ao discurso jornalístico. Assim, ele é apresentado aos leitores como o relato de uma verdade pragmática e factual, possível de comprovação. (...)

Há ainda um aspecto que se refere à internalização do personagem de 'contador da verdade' que, em alguns casos desviantes, resulta em uma arrogância imodesta de repórteres.


Sobre verdade e mentira
Nietzsche

(...) é fixado aquilo que (...) deve ser “verdade”, isto é, é descoberta uma designação uniformemente válida e obrigatória das coisas, e a legislação da linguagem dá também as primeiras leis da verdade: pois surge aqui pela primeira vez o contraste entre verdade e mentira. O mentiroso usa as designações válidas, as palavras, para fazer aparecer o não-efetivo como efetivo. (...) É a linguagem a expressão adequada de todas as realidades?

Somente por esquecimento pode o homem alguma vez chegar a supor que possui uma “verdade” no grau acima designado. (...) O que é uma palavra? A figuração de um estímulo nervoso em sons. Mas concluir do estímulo nervoso uma causa fora de nós já é resultado de uma aplicação falsa e ilegítima do princípio da razão. (...) Um estímulo nervoso, primeiramente transposto em uma imagem! Primeira metáfora. A imagem, por sua vez, modelada em um som! Segunda metáfora. (...) não é logicamente que ocorre a gênese da linguagem, e o material inteiro (no qual e com o qual mais tarde o homem da verdade, o pesquisador, o filósofo, trabalha e constrói) provém, se não de Cucolândia das Nuvens, em todo caso não da essência das coisas.

(...) Todo conceito nasce por igualação do não-igual. (...) A desconsideração do individual e efetivo nos dá o conceito, assim como também nos dá a forma, enquanto que a natureza não conhece formas nem conceitos, portanto também não conhece espécies, mas somente um X, para nós inacessível e indefinível. (...)

O que é a verdade, portanto? Um batalhão móvel de metáforas, metonímias, antropomorfismos, enfim, uma soma de relações humanas, que foram enfatizadas poética e retoricamente, transpostas, enfeitadas, e que, após longo uso, parecem a um povo sólidas, canônicas e obrigatórias: as verdades são ilusões, das quais se esqueceu que o são, metáforas que se tornaram gastas e sem força sensível (...).

Continuamos ainda sem saber de onde provém o impulso à verdade: pois até agora só ouvimos falar da obrigação que a sociedade, para existir, estabelece: de dizer a verdade, isto é, de usar as metáforas usuais, (...) da obrigação de mentir segundo uma convenção sólida, mentir em rebanho, em um estilo obrigatório para todos. Ora, o homem esquece sem dúvida que é assim que se passa com ele: mente, pois, da maneira designada, inconscientemente e segundo hábitos seculares – e justamente por essa inconsciência, justamente por esse esquecimento, chega ao sentimento de verdade.

(...) Coloca agora o seu agir como ser “racional” sob a regência das abstrações; não suporta mais ser arrastado pelas impressões súbitas, pelas intuições, universaliza antes todas essas impressões em conceitos mais descoloridos, mais frios, para atrelar a eles o carro de seu viver e agir. Tudo o que destaca o homem do animal depende dessa aptidão de liquefazer a metáfora intuitiva em um esquema, portanto de dissolver uma imagem em um conceito. (...) a ilusão de um estímulo nervoso em imagens, se não é a mãe, é pelo menos a avó de todo e qualquer conceito.

Rumo à construção de si mesmos como semideuses da sociedade

Onissapiência

Pessoas "públicas" também têm direito à privacidade

terça-feira, 27 de julho de 2010

Crença necessária

(Quase) todo profissional tem a necessidade de idealizar sua profissão.

Deslumbramento com o estrangeiro

O japonês Souzousareta Geijutsuka, anunciado pela imprensa cearense como um dos principais nomes da arte contemporânea universal, era ansiosamente esperado em dezembro de 2007 em Fortaleza, para abrir a exposição Geijitsu Kakuu. Convidado especial da curadoria do Museu de Arte Contemporânea do Ceará, Geijutsuka mostraria ao público cearense por que seu trabalho é aclamado em todo o planeta como uma obra revolucionária que, segundo o material de divulgação de sua eficiente assessoria de imprensa, incorpora "novos conceitos à arte", como os de "operação em tempo real, simultaneidade, supressão do espaço e imaterialidade". Os jornais locais deram amplos espaços para a divulgação da exposição. Um deles chegou a publicar, no dia marcado para a abertura do evento, uma entrevista de página inteira com Geijutsuka. Tudo perfeito, não fosse um detalhe: Souzousareta Geijutsuka não existe.

Canal Contemporâneo: Clipping de matérias sobre a exposição Geijitsu Kakuu, criação de Yuri Firmeza, para a série Artista Invasor do Museu de Arte Contemporânea do Ceará. Todas as notícias veiculadas pela imprensa de Fortaleza, entre os dias 10 e 12 de janeiro de 2006.

Será que a leitura dos jornais nos torna estúpidos?

Rubem Alves, o maior cronista do Brasil.

Onipotência

Em setembro deste ano, no Chamada Geral 1ª Edição, programa da Rádio Gaúcha apresentado pelo Antônio Carlos Macedo, noticiou-se que o governo estadual abriu uma sindicância para apurar qual servidor fez a denúncia à imprensa que gerou o escândalo do DAER. A alegação que justifica a sindicância é a de que o servidor deveria ter feito denúncia a seus superiores, e não à imprensa. Macedo falou: "Quanta decepção, senhor secretária. Está todo mundo careca de saber que servidor que denuncia é perseguido. Mas servidor, não se intimide, não se complique com seus superiores, faça uma denúnia anônima para nós, que nós resolvemos."

Rodrigo Amarante

Repórter: Sempre tem essa relação Ana Júlia x Los Hermanos...

Bob Dylan

Transcrição completa dos trechos surreais da entrevista coletiva com o Bob Dylan, em San Francisco, dezembro de 1965, contidos no filme 'No direction home'.

- Você prefere música com mensagem sutil ou óbvia?
- Com o quê?
- Mensagem sutil ou óbvia?
- Com uma mensagem... Que música com mensagem?
- Como 'Eve destruction' e coisas assim.
- Prefiro isso a quê?
- Não sei, mas suas músicas deveriam conter uma mensagem sutil.
- Mensagem sutil?
- Bem, supostamente deveriam ter.
- Onde leu isso?
- Numa revista de cinema.
- Ah, meu deus...

- Pensa em si basicamente como um cantor ou um poeta?
- Penso em mim como um homem que canta e dança, sabe?
- Senhor Dylan, sei que não gosta de rótulos e provavelmente está certo, mas, para nós que estamos bem acima dos 30, poderia se rotular e talvez nos dizer qual é o seu papel?
- Bem, eu me rotulo como bem abaixo dos 30. E o meu papel é ficar aqui tanto quanto puder.
- É considerado por muita gente símbolo do movimento de protesto do país, para os jovens. O senhor vai participar da manifestação do Vietnam Day Committee em frente ao hotel Paramount, esta noite?
- Estarei ocupado esta noite.

"As coisas fugiram do controle. Sabe, caíram no... Você me pergunta se escrevo canções surreais, mas esse tipo de atividade é que é surreal. Não tinha respostas para essas perguntas, não mais do que qualquer outro artista, na verdade. Mas isso não impediu a imprensa, nem as pessoas, ou quem quer que seja, de me fazerem esses questionamentos. Por alguma razão a imprensa achava que os artistas tinham as respostas para todos esses problemas da sociedade. O que se pode dizer sobre isso? É algo meio absurdo."

- Senhor Dylan, parece muito relutante em falar sobre o fato de que é um artista popular, na verdade dos mais populares.
- O que quer que eu diga?
- Bem, não entendo por quê.
- Bem, o que quer que eu diga a respeito?
- Bem, parece de ter vergonha de admitir que é... de falar a respeito...
- Bem, eu não estou com vergonha. O que quer exatamente que eu fale? Quer que eu pule e diga 'Aleluia' e quebre as câmeras e faça algo estranho? Diga-me. Diga-me, faço o que mandar. De não puder fazer, acharei alguém que faça o que quer.
- O senhor não sabe por que razão ou não tem idéia de por que é popular, isso é o que me interessa.
- Na verdade, nunca me esforcei para isso. Aconteceu, sabe? Aconteceu, como tudo acontece.

Dunga

Quanto aos jornalistas, o Dunga é o Bob Dylan gaúcho do futebol brasileiro, o Amarante da mídia esportiva. Estamos carentes de heróis assim. Viva o Dunga!

in-formação

"Benjamin dizia que o periodismo é o grande dispositivo moderno para a destruição generalizada da experiência. O periodismo destrói a experiência, sobre isso não há dúvida, e o periodismo não é outra coisa que a aliança perversa entre informação e opinião. O periodismo é a fabricação da informação e a fabricação da opinião. E quando a informação e a opinião se sacralizam, quando ocupam todo o espaço do acontecer, então o sujeito individual não é outra coisa que o suporte informado da opinião individual, e o sujeito coletivo, esse que teria que fazer a história segundo os velhos marxistas, não é outra coisa que o suporte informado da opinião pública. Quer dizer, um sujeito fabricado e manipulado pelos aparatos da informação e da opinião, um sujeito incapaz de experiência. E o fato de o periodismo destruir a experiência é algo mais profundo e mais geral do que aquilo que derivaria do efeito dos meios de comunicação de massas sobre a conformação de nossas consciências." (Jorge Larrosa Bondía, professor da Universidade de Barcelona e doutor em Filosofia da Educação)

"Tao-Te-Ching diz o seguinte: 'Na busca dos saberes, cada dia alguma coisa é acrescentada. Na busca da sabedoria, cada dia alguma coisa é abandonada.' O cientista soma; o sábio subtrai." (Rubem Alves)


"Lembrei-me de uma advertência de Schopenhauer: 'No que se refere a nossas leituras, a arte de não ler é sumamente importante. Essa arte consiste em nem sequer folhear o que ocupa o grande público. Para ler o bom uma condição é não ler o ruim: porque a vida é curta e o tempo e a energia escassos... Muitos eruditos leram até ficar estúpidos.' Existirá possibilidade de que a leitura dos jornais nos torne estúpidos? O prazer da leitura, para mim, está não naquilo que leio mas naquilo que faço com aquilo que leio. Ler, só ler, é parar de pensar. É pensar os pensamentos de outros. E quem fica o tempo todo pensando o pensamento de outros acaba por desaprender a arte de pensar seus próprios pensamentos: outra lição de Schopenhauer. Pensar não é ter as informações. Pensar é o que se faz com as informações. É dançar com o pensamento, apoiando os pés no texto lido: é isso que me dá prazer. Suspeito que a leitura meticulosa e detalhada das informações tenha, freqüentemente, a função de tornar desnecessário o pensamento. Pensar os próprios pensamentos pode ser dolorido. Quem não sabe dançar corre sempre o perigo de escorregar e cair... Assim, ao se entupir de notícias – como o comilão grosseiro que se entope de comida – o leitor se livra do trabalho de pensar." (ALVES, Rubem. Será que a leitura dos jornais nos torna estúpidos? Folha de S. Paulo, Tendências e Debates, 02/09/2001.)

segunda-feira, 26 de julho de 2010

José Alberto Andrade

Depois de Cruzeiro 2x2 Grêmio, no domingo dia 25/07/2010, houve discussão entre jogadores no vestiário do Grêmio. O técnico Silas, do time gaúcho, disse que é um fato normal. José Alberto Andrade, na segunda-feira dia 26/07/2010 demonstrou indignação raivosa.

Silas: Não tem notícia pra vocês aqui. Não adianta vocês criaram notícia onde não tem.
José Alberto Andrade: Isso é coisa de gente fraca.